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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: https://www.ecured.cu/

 

 

 

NELSON SIMÓN

 

Pinar del Río, Cuba, 1965.
Poeta y editor.
Ha publicadoo los poemarios  Ciudad de nadie (1992), El peso de la isla (1992), Con la misma levedad de um náufrago (1995),
Criatura de isla  (1996), y Para ser reconocido (2001).
Con A la sombra de los muchachos en flor (2001) ganó el Premio Nacional de Poesía  “Julián del Casal” 2000.

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL  -  TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

 

 

ALFORJA REVISTA DE POESIA.  XXVII  - Invierno 2003Director José Vicente Anaya y José Angel Leyva.  Editor Luis Ignacio Sánz.  México, D.F.: Universidad Autónoma de México, 2003.  

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

bojo el impuro nombre que padezco.

EMILIO BALLAGAS

 

Déjame detenerme y contemplarme

bajo el impuro nombre que padezco;

nombrar la oscuridad que al mundo ofrezco,

espejos donde intento maquillarme.

 

Yo nunca he sido halcón, tampoco trigo;

ni he trocado dolor por turbias rosas:

mis culpas son espadas, mas hermosas,

y como son mis culpas, van conmigo.

 

Simple y ciego mortal, la vida huye

de mi carne... Y en la breve ternura

de otros brazos viriles me anochezco

 

sin encontrar la paz: agua que fluye

lejos de la ceniza y la espesura

de aquel impuro nombre que padezco.

 

 

Lamentaciones del escriba

 

Yo, Fraccites de Leargos, conocedor del mundo

y dueno de la luz indomable que tienen las palabras;

hermoso como los afodelos en los dorados dias de mi juventud;

entregado al placer, al goce de la carne

entre paredes de indecentes cuartos

que nunca fueron más blancos que mis duras piernas;

ahora cincelado por el dolor,

moldeado por los constantes abandonos

que me han hecho astuto como un lince;

cocido por el fuego voluptuoso de mis múltiples amantes

y endurecido hasta mi corazón —pájaro petrificado—

olvidado de los mistérios de la música

y el temblor que se siente cuando una mano hermosa te recorre, cuando una boca lasciva te humedece el cuello, el vientre, el sexo que se rompe con su oleaje.

 

Yo, Fraccites, conquistador de todas las islãs vírgenes

que me flotan dentro, labriego

que ha gastado su cuerpo hundiéndolo como un arado

en la tierra estéril dei equilíbrio,

me he sentido empujado esta manana

a recorrer la ciudad que junto a mi se inclina hacia el polvo,

a detenerme en las ruinosas esquinas

que ya no reconozco y donde en otros anos

creí haber tocado la felicidad;

me he lanzado como quien no tiene a nada que temer,

como quien se siente apanado por los dioses,

invulnerable;

y he aqui que mis ojos, sin querer, han chocado

con los corrosivos y afilados ojos de este adolescente

hermoso hasta en su sombra,

hermoso hasta en el modo de mentirme,

de levantar como un trofeo su fingida adultez.

 

He aqui que ahora no escucho más que sus palabras.

Que ahora no sueno con otra imagen

 

que no sea la dei delgado y deseado cuerpo

desnudo sobre la impudica cama que lo espera

como si por primera vez me abrazara al pecado,

como si por primera vez desafiara la ira de los dioses.

 

Yo, Fraccites de Leargos, siento que lo vivido

ya no cuenta. Que mi vida no ha sido más

que la historia que yo mismo fui inventando

y lo descubro con el terror

de quien sabe que llega a la verdad

demasiado tarde. Lo descubro

cuando lo encuentro a él como una invención más,

como un espejismo erótico

que aparece para arrancar y lanzar al aire

cada página dei libro que fui escribiendo

con paciência de satânico alquimista.

 

Yo, Fraccites de Leargos, siento que ya no conozco el mundo

y veo como escapa de mí

la luz indomable que tienen las palabras,

cuando me aferro a la breve belleza de sus escasos anos

apretados en mis manos como espigas

de oloroso trigo aún por madurar

y siento los mios como pequenas piedras que cayeran al agua,

y me arrepiento de salir a recorrer la ciudad esta mañana.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de ANTONIO MIRANDA

 

sob o impuro nome que padeço.
EMILIO BALLAGAS

 

Deixa-me deter-me e contemplar-me

sob o impuro nome que padeço;

nomear a escuridão que ao mundo ofereço,

espelhos onde tento maquilar-me.

 

Eu nunca fui um balcão falcão, tampouco trigo;

nem troquei a dor por obscuras rosas:

minhas culpas são espadas, mais formosas,

e como são minhas culpas, vão comigo.

 

Simples e cego mortal, a vida flui

de minha carne... E em breve ternura

de outros braços viris me anoiteço

 

sem encontrar a paz: água se dilui

longe da cinza e da espessura

daquele impuro nome em que padeço.

 

 

Lamentações de escrivão

Deixe-me deter-me e contemplar-me
No impuro nome em que padeço;
nomear a escuridão que ao mundo ofereço,
espelhos onde tento maquiar-me.

Eu nunca fui um falcão, tampouco trigo;
 nem troquei dor por obscuras rosas:
minhas culpas são espadas, mais formosas,
e como são minhas culpas, vão comigo.

Simples e cego mortal, flui a  vida
de minha carne.. E na breve ternura
de outros braços viris eu anoiteço
sem encontrar a paz: água evadida
longe da cinza e da espessura
daquele impuro nome que padeço.

Lamentações de escrivão
Eu, Fraccites de Leargos, conhecedor do mundo
e dono da luz indomável que as palavras têm;
formoso como os modelos nos dourados dias de minha juventude;
entregue ao prazer, ao gozo da carne
entre paredes de indecentes quartos
que nunca fora mais brancos que as duras pernas;
agora cinzelado pela dor,
modelado por constantes abandonos
que me tornaram astuto como um lince;
cosido pelo fogo voluptuoso de minhas muitas amantes
e endurecido até meu coração — pássaro petrificado —
esquecido dos mistérios da música
e o tremor que se sente quando mão formosa te percorre,
quando da boca lasciva umedece teu pescoço, o ventre,
o sexo que se rompe com sua ondulação.

Eu, Fraccites, conquistador de todas as ilhas virgens
que flutuam dentro de mim, lavrador
que gastou de corpo enterrando-o como um arado
na terra estéril do equilíbrio,
e fui empurrada nesta manhã
a percorrer a cidade que se inclina até o pó,
a deter-me na ruinosas esquinas
que já não reconheço e onde em outros anos
acreditei haver encontrado a felicidade;
lancei-me como quem não te nada a temer,
como quem se sente patrocinado pelos deuses,
invulnerável;
e agora meus olhos, sem querer, chocaram-se
com os corrosivos e afilados olhos deste adolescente
belo até em sua sombra,
belo até na forma de mentir,
de levantar como um troféu sua fingida maturidade.

Eis que agora não escuto mais do que suas palavras.
Que agora não sonho mais com a sua imagem
que não seja a do delgado e desejado corpo
desnudo sobre a impudica cama que o espera
como se pela primeira vez me abraçasse o pecado,
como se pela primeira vez desafiasse a ira dos deuses.

Eu, Fraccites de Leargos, sinto que o vivido
já não conta. Que minha vida não foi mais
que a história que eu mesmo fui inventando
e o descubro com o terror
de quem sabe que chega à verdade
tarde demais. Eu o descubro com o terror
de quem sabe que chega à verdade
demasiado tarde. Eu descubro
quando o encontro como uma invenção mais,
com um espelhismo erótico
que aparece para arrancar e lançar no ar
cada página do livro que eu fui escrevendo
com a paciência de um satânico alquimista.

Eu, Fraccites de Leargos, sinto que não conheço o mundo
e vejo como escapa de mim
a luz indomável que as palavras contêm,
que me aferro à breve beleza de seus escassos anos
apertados em minhas mãos com espigas
do trigo perfumado ainda amadurecendo
e sinto meus como pequenas pedras que caíram na água,
e me arrependo por sair a percorrer a cidade nesta manhã.

 


 

*

 

 

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Página publicada em abril de 2021

 


 

 

 
 
 
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